segunda-feira, 12 de abril de 2010

Conversa.

(...)
Sentada no colo do seu pai estava aquela pequena criança. Era a hora do dia em que eles conversavam sobre a vida dela. Anseios, novidades, receios, alegrias, dores.. Era o momento do dia que a menininha mais gostava. Acontecia sempre depois dela fazer suas tarefas de casa, quando a luz do dia já estava se esvaindo e a noite começava a raiar. As cores do céu eram sempre diferentes, e a criança gostava de conversar com seu paizão, como ela costumava chamar, sentindo a brisa no seu rosto, o barulho do vento nas folhas do jardim e o céu colorido com seu crepúsculo diário.

A pequena chegou na varanda da sua casa, aquela que dava para ao jardim. Seu pai já lhe esperava lá. Olhou para ela com o seu sorriso carinhoso e deu duas batidinhas no banco chamando-a para sentar-se ao seu lado.
A conversa daquele dia seria diferente. O rostinho jovem da pequena dizia isso. Seu pai, por conhecê-la muito bem, já esperava uma daquelas perguntas cabeludas.
Ela sentou ao lado do seu belo pai, calada.
Ele preferiu respeitar o silêncio dela e também não pronunciou palavra alguma.

Depois de alguns minutos de silêncio, a pequena respirou e logo disse:

- Pai, quero saber! - um tom de revolta pairava em sua voz.
- Quer saber o quê, minha querida? - disse o pai com sua voz grossa e alentadora
- TUDO! - exclamou ela

Seu pai riu, mexeu nos cabelos dela colocando a franja atrás da orelha.
- Tudo, minha criança? Tudo é tanta coisa!
- Mas eu quero, papai, eu quero saber! Quero tirar todas as minhas dúvidas, quero ser a menina mais esperta, quero não perguntar mais nada, não esperar mais as respostas... quero saber!
- Calma, minha pequena! As coisas não podem ser assim. A ordem natural das coisas deve ser respeitada. Você só deve saber o necessário, e se preocupar apenas com ele. O mais, saberás no momento certo!
- Mas se eu souber de tudo agora, quando chegar o "momento certo" eu não precisarei mais aprender, porque eu já sei. - justificou a menina - Além do mais, eu demoro pra aprender as coisas na hora, e às vezes dói..
- Sabe, filha, isso é verdade.. às vezes dói. Mas faz você amadurecer. E as frutas que amadurecem no tempo certo, do modo certo são muito mais saborosas que aquelas que foram forçadas a amadurecer. Elas não passaram pelo que deveriam passar. E assim, as primeiras causam muito mais sorrisos de prazer naqueles as degustam. Uma fruta docinha, bem madura acaba tornando a sua presença naquele momento imprescindível e marcante. Ela será um ponto feliz na lembrança daquele dia, mesmo que o dia não tenha sido um dos melhores. - afirmou o pai da menina - Alegre-se, minha criança! Você não precisa saber de tudo, não precisa amadurecer precocemente. Aproveite seu tempo, seu momento. E eu estarei com você todos os dias, aqui ou em qualquer lugar, sejam dias alegres ou dolorosos. Você nunca esteve sozinha, e nem nunca estará. Eu amo você!

A menina silenciou, encostou seu rosto no braço do seu pai e sorriu. Olhou para o céu, respirou aliviada e concordou:

- É! Você sempre estará comigo. Eu também te amo, Papai.



"Minha vida quieta em Tuas mãos, seja tudo o que me faz feliz"
(Tudo Que Me Faz Feliz - Carol Gualberto)

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